Um terço das nascentes em Ipatinga encontra-se degradado, afirma promotor em audiência pública
Publicada em 21/05/2015 18:27
Vereadores Juarez Pires e Léo Escolar promovem debate na Câmara Municipal sobre a crise da água
Atendendo a requerimentos apresentados pelos vereadores Juarez Pires (PT) e Léo Escolar (PCdoB), a Câmara Municipal de Ipatinga realizou na noite desta quinta-feira (20) uma audiência pública com o tema “A crise da água: um problema de todos nós”. Foram convidados para debater o assunto o chefe do Departamento Operacional da Região Leste da Copasa, Franklin Otávio Coelho Mendonça, o promotor de justiça Rafael Pureza, que é curador da área de Saúde e Meio Ambiente em Ipatinga, e a bióloga Narliane de Melo Martins, do Instituto BioAtlântica (Ibio).
O promotor Rafael Pureza afirmou na audiência pública que assumiu a curadoria do Meio Ambiente do Ministério Público em Ipatinga há cerca de um ano e que está “assustado com o tamanho das demandas e problemas ambientais na cidade”.
Uma oportunidade para iniciar sua atuação em defesa do meio ambiente no município, conforme o promotor, foi a parceria firmada pelo Ministério Público com o Instituto Interagir e a Prefeitura Municipal para o desenvolvimento do projeto Mapa da Mina. O objetivo é identificar, diagnosticar e recuperar as nascentes existentes em Ipatinga.
“Podemos falar que o recurso hídrico é hoje o maior patrimônio de uma determinada localidade. Vai chegar um dia, não tenho dúvida nenhuma, de que a água vai custar tão caro quanto o petróleo. O Brasil demorou um pouco para acordar para esse problema que envolve a água, tanto a sua escassez quanto a contaminação. Acredito que pelo fato desse ser um recurso que sempre foi muito abundante aqui”, afirmou.
Segundo dados do projeto Mapa da Mina, que se transformou no Procedimento de Projeto Social do Ministério Público, estima-se que existam cerca de 300 nascentes dentro do município de Ipatinga, sendo que um terço delas está degradado. Na sub-bacia do Ipanemão foram identificadas 134 nascentes e na sub-bacia do Ipaneminha, até o momento, 49. Nas próximas etapas do trabalho, serão estudadas as sub-bacias de Pedra
Branca, Tribuna, Bucânia, Morro Escuro, Taúbas e na área urbana da cidade.
Narliane Martins representou o Ibio, entidade comprometida
com a qualidade ambiental e a disponibilidade hídrica
Recursos exauridos
A bióloga Narliane de Melo Martins, do Ibio, destacou que os recursos naturais hoje estão excessivamente explorados. Ela afirmou que para que a fome no planeta seja erradicada até 2050, quando a população mundial será de 9,3 bilhões de pessoas, é preciso que a produção agrícola atual seja dobrada.
“A forma que ocupamos o Vale do Aço, por exemplo, é uma forma que explora ao máximo os recursos naturais. Você está usando um terreno aqui e aquele solo já está infértil, então você passa para outro terreno, não faz adubação, calagem, não temos o hábito de conservar os recursos que temos. O mesmo acontece com a água. Pega uma água limpa, utiliza e a descarta com uma qualidade ruim”, explicou.
Fundado em 2002, o Ibio é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, comprometida com a qualidade ambiental e a disponibilidade hídrica.
Franklin Mendonça detalhou todo o esforço da Copasa para evitar perdas
no processo de abastecimento e promover o uso racional
Caixa d’água vazia
O representante da Copasa, Franklin Mendonça, iniciou sua participação lembrando que jamais se imaginou que o estado de Minas Gerais, considerado a caixa d’água do Brasil, vivesse a situação de uma caixa d’água vazia. “Embora a nossa região, e especialmente o Vale do Aço, tenha sido poupada dos efeitos mais graves da crise hídrica, entendo que essa audiência é um momento de reflexão para que a contribuição de todos possa fazer com que a ação de cada um construa um futuro diferente”.
A população das principais cidades do Vale do Aço é abastecida com a água de 28 poços profundos localizados nas margens do rio Piracicaba, no bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano. Conforme o representante da Copasa, eles produzem em torno de 58 milhões de litros de água por dia. Esse volume é consumido por aproximadamente 600 mil pessoas.
Para que não falte água para a população do Vale do Aço, a Copasa desenvolve um trabalho de recuperação de perdas e conscientização da população para o uso racional da água. O principal objetivo é evitar o aumento da produção, prolongando a vida útil do aqüífero aluvionar do rio Piracicaba.
O programa de redução de perdas visa a identificação de vazamentos nas redes de distribuição da Copasa e de ligações clandestinas. Com relação ao uso racional da água, o trabalho envolve a conscientização da população. Entre os maiores problemas de consumo nos imóveis residenciais estão: o mau uso das descargas, chuveiros e máquinas de lavar; torneiras pingando; uso de mangueiras para lavar carros e para limpar calçadas e quintais.
Os vereadores Juarez Pires e Léo Escolar (centro) avaliaram como positiva
a realização da audiência pública para debater a crise da água
O vereador Juarez Pires avaliou como positiva a audiência pública, na qual foram abordados os principais temas que envolvem a crise hídrica. “Tomamos conhecimento aqui da forma como é trabalhado o abastecimento da população no município. Conhecemos melhor o projeto Mapa da Mina, que tem a participação do Ministério Público e objetivo de recuperar as nascentes degradadas do município. E também aprendemos um pouco mais sobre a importância de uma exploração equilibrada dos recursos naturais. Gostaria de agradecer a todos os palestrantes que atenderam ao nosso convite e ao público que participou assistindo e fazendo perguntas. Todos contribuíram para que esta audiência pública alcançasse seus objetivos”, finalizou o parlamentar.