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Em audiência pública, mãe de vítima da pedofilia relata drama vivido


Publicada em 09/10/2015 16:57

Em audiência pública, mãe de vítima da pedofilia relata drama vivido

Câmara de Ipatinga realiza debate na Faculdade de Medicina sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes

 

A Câmara Municipal de Ipatinga realizou, na noite desta quinta-feira (08), audiência pública no auditório da Faculdade de Medicina do Vale do Aço, no bairro Veneza, para discutir assuntos referentes ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. A atividade legislativa foi a última de uma série seis realizadas a partir de requerimento apresentado pelo vereador Ademir Cláudio (DEM), que também realiza uma campanha de combate à pedofilia no município de Ipatinga.

 

O público foi composto em sua maioria por estudantes de medicina, que após as explanações dos participantes convidados puderam fazer perguntas e expor suas dúvidas sobre o tema. A diversidade de conhecimento e vivência daqueles que participaram do debate foi fundamental para que todos chegassem ao fim da audiência mais conscientes da gravidade do problema e a importância da participação de cada um para combater a pedofilia.


Público formado em sua maioria por estudantes de medicina acompanhou participação

feita na audiência pelo professor João Henrique Dupin, médico psiquiatra 


Tratamento

Um dos palestrantes convidados foi o professor João Henrique Dupin, médico psiquiatra, que estava em casa, pois havia na platéia muitos de seus alunos. Ele abordou várias situações que envolvem o abuso sexual contra uma criança. “Na maioria dos casos, o abusador também foi vítima de abuso na infância. Está certo que é um crime e deve ser punido, mas é também necessário que essa pessoa seja tratada. Não adianta ficarmos somente caçando os abusadores, temos que tratá-los”.

 

O professor Dupin também ressaltou que a criança vítima de abuso sente-se muitas vezes como que culpada. “Nós vivemos numa cultura em que somos castigados quando erramos. O tapinha que a criança leva quando faz algo errado é uma punição. Então, no caso de uma criança pequena que é vítima de abuso, ela entende aquela agressão como uma punição e passa a se sentir culpada. Ela precisa passar por um trabalho psicológico para entender que ela é vítima e tem culpa de nada. Mas também não deve ficar arrastando esse problema em terapias por anos e anos, sempre batendo na mesma tecla. Deve haver um acompanhamento, mas tentar superar, entender o problema e seguir em frente”.

 

Tristeza e dor

Um dos momentos mais dramáticos da audiência pública foi o depoimento de Romilda Ferreira da Costa Teixeira, mãe de uma criança de 2 anos de idade, que recentemente foi vítima de abuso sexualem Ipatinga. Muitaspessoas não conseguiram conter a emoção e choraram junto com ela.

 

Como se fosse um pedido de socorro ou uma forma de aliviar a pressão que sente dentro do peito, Romilda compartilhou com o público que, para trabalhar, deixava o pequeno D. na creche. Há algumas semanas, após chegar em casa com a criança, notou que suas fezes estavam com uma coloração diferente e sua cueca com manchas de sangue.

 

No Hospital Márcio Cunha foi constatado que o garoto de apenas 2 anos havia sido brutalmente violentado. Segundo Romilda, seu filho ficou cinco dias evacuando sangue. A cueca de D. também apresentava vestígios de sêmen e foi encaminhada para o Instituto de Criminalística de Belo Horizonte para exames de DNA, numa tentativa de comprovação da autoria do crime. O suspeito seria um voluntário que trabalhava na creche onde a criança ficava.

 

Chefe de gabinete do vereador Ademir Cláudio e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Ipatinga, Leonardo Oliveira Rodrigues, exibiu durante a audiência um vídeo com diversos dados estatísticos sobre a pedofilia e informações sobre como identificar se uma criança ou adolescente está sendo vítima de abusos sexuais. Com relação à prostituição infantil ou pedofilia com fins comerciais, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial, perdendo apenas para a Tailândia. Na América do Sul, o Brasil ocupa o desonroso 1º lugar.


A diversidade das áreas de conhecimento dos convidados para a audiência

pública permitiu um debate em alto nível

 

Combate

Representando o 14º Batalhão de Polícia Militar na audiência pública, o tenente Lindhon Johnson de Toledo, destacou ser muito difícil prevenir a pedofilia. “Geralmente os abusadores são pessoas de uma convivência muito agradável, simpáticas, educadas e que jamais podemos imaginar serem capazes de tamanhas atrocidades. A única forma de prevenir esse tipo de crime é estarmos atentos ao que acontece à nossa volta. Percebermos comportamentos diferentes, estranhos, de nossos filhos, familiares, de nossos vizinhos, amigos. Somente assim é que podemos evitar e combater a pedofilia”, afirmou.

 

Conforme a Vigilância Epidemiológica, 70% dos casos de pedofilia registrados em Ipatinga acontecem dentro da casa das vítimas. O vínculo familiar com o agressor representa 80% dos casos. O mais alarmante é que 16% dos casos são de vítimas com idade entre1 a 9 anos, que tiveram o próprio pai como agressor.  

 

O vereador Ademir Cláudio destacou que os diversos segmentos da sociedade devem formar uma espécie de rede para combater a pedofilia. “Nossa intenção é sensibilizar e ao mesmo tempo alertar a comunidade de modo geral sobre esse crime, que infelizmente é tão comum. Queremos que a informação se multiplique para que as pessoas saibam dos seus direitos e a quem recorrer quando necessário. Desde 2013 estamos fazendo audiências públicas para orientar a comunidade ipatinguense sobre a prevenção e o combate à pedofilia. Divulgamos amplamente o Disque 100 e fico muito feliz em saber que a nossa iniciativa tem trazido um resultado positivo para nossa cidade”.

 

Também contribuíram com a audiência pública: Marize Martins de Moraes, representando a Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais (SRE-MG); Starley de Jesus Sá, representando o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA); Cláudia Castro, representando a Secretária Municipal de Saúde; Tenente Neymar Gomes, representando a 3ª Companhia Independente de Bombeiros Militar.

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