Após reclamações, audiência pública discute qualidade do transporte público
Publicada em 01/06/2021 19:10
Vereadores, diretor do Departamento de Trânsito da Prefeitura e representantes da população e do setor participaram do debate, que ocorreu presencialmente e de forma remota, na noite desta segunda-feira (31); encaminhamentos foram apresentados
Após uma série de reclamações sobre o transporte coletivo de Ipatinga, vereadores realizaram audiência pública para debater a qualidade do serviço na cidade, na noite desta segunda-feira (31), no plenário da Câmara Municipal de Ipatinga.
A reunião foi organizada pelo vereador Vianei (Avante) e transmitida ao vivo pela TV Câmara, por meio dos canais oficiais da instituição na internet. As participações ocorreram presencialmente e de forma remota.
A audiência teve o objetivo de discutir o retorno das linhas de ônibus, afetadas pelas restrições das medidas contra a pandemia da Covid-19, mas a discussão acabou sendo ampliada para o setor como um todo.
Relatos de atraso, supressão de linhas, horários mal distribuídos, passagens caras, licitações e concessões à mesma empresa, descumprimento de direitos trabalhistas da categoria, tudo foi levantado e questionado com o propósito de buscar alternativas aos problemas apontados por aqueles que dependem, direta ou indiretamente, do transporte coletivo urbano.
O vereador Vianei abriu a reunião relatando as cobranças que vem recebendo da população, desde que assumiu o mandato, no início do ano.
“Temos recebido diariamente reclamações de usuários do transporte público sobre os horários que não voltaram, como era antes da pandemia. A audiência, diga-se de passagem, é um instrumento legal que a Câmara tem em seu poder para debater temas de interesse público”, disse o parlamentar.
Vereadores Wellington da Floricultura, Chiquinho e Daniel também fizeram parte das discussões em torno do transporte público de Ipatinga
Os vereadores foram unânimes em reconhecer que os serviços de transporte não vêm sendo cumprido pela empresa Saritur, mesmo antes a crise da Covid-19, iniciada em março de 2020. Todos concordaram que novas ações são necessárias para atender às necessidades e aos interesses dos usuários.
O vereador Daniel (PSD) lembrou que os problemas relatados remetem à longa data, muito antes do coronavírus.
“Acredito, sim, que a empresa vem sofrendo dificuldades por conta desse momento difícil, mas, desde 2017, ainda como assessor aqui na Câmara, participei de uma audiência sobre o mesmo tema, e percebemos que as reclamações são as mesmas: preço do serviço, escassez de linhas, falta de pontualidade. Recebemos à época a garantia que as demandas seriam atendidas e estamos aqui até hoje relatando os mesmos problemas.”
O vereador Chiquinho (PP), por sua vez, citou inúmeras linhas suprimidas ao longo do tempo. O parlamentar relatou ainda a superlotação em alguns horários, apesar das restrições impostas no combate a aglomerações.
“A linha 302 e a linha 310, que levava os moradores do Serra Dourada, deixaram de existir. Sabe-se ainda as dificuldades que um trabalhador passa para chegar ao seu local de trabalho. E ainda por cima os ônibus que permanecem circulando estão lotados, o que acaba deixando quem precisa esperando mais de uma hora e meia para pegar a próxima condução.”
A vereadora Mariene foi uma das parlamentares que se manifestou contra a prestação deficiente do serviço de transporte público
A vereadora Professora Mariene (Patriota) concordou que as reclamações têm sido muitas, e que alguma medida tem que ser tomada. Ela frisou a necessidade de se fazer uma análise das cláusulas do contrato de concessão com a Saritur, buscando o cumprimento contratual por parte da empresa. Ela ainda questionou se as medidas contra o coronavírus foram de fato a causa da queda da qualidade do serviço.
“Foi a pandemia que realmente limitou esses horários de ônibus? Pode até ser que tenha impactado, mas ela não é a causa principal da má qualidade no transporte público. Não adianta a gente ficar aqui só discutindo, temos que pensar em estratégias e cobrar que algo seja feito. Temos que cobrar aquilo que está no contrato.”
O vereador Wellington da Floricultura (PSC) também usou a palavra para reforçar o papel fiscalizador da Câmara Municipal de Ipatinga. Na visão do parlamentar, os vereadores precisam se debruçar sobre o contrato assinado pela empresa com o município e buscar os direitos dos usuários.
“A empresa assina um contrato de prestação de serviço e hoje fica claro que ela não dá conta do recado. E quem acaba saindo prejudicado é o munícipe. Então eu peço ao representante da empresa que respeite o documento.”
Para o representante do sindicato, Aurélio Moreira, a empresa tem que respeitar o contrato e a lei
Representando o Sindicato dos Empregados no Comércio e Serviços de Ipatinga (Seci), o diretor Aurélio Moreira seguiu a linha dos vereadores. Para ele, a empresa peca não apenas por descumprir o contrato, mas também por desrespeitar direitos fundamentais.
“A empresa não vem só descumprindo o direito social de transporte garantido pela Constituição, como também viola recorrentemente os direitos trabalhistas dos trabalhadores da categoria, como os motoristas e demais empregados, que em nenhum momento se esquivaram de trabalhar durante a pandemia. Se o contrato assinado tem que ser cumprido, os riscos da atividade empresarial quem tem que assumir é a empresa, e não os trabalhadores e os usuários.”
A advogada Janine Silva, em nome da empresa Saritur, rebateu as críticas recebidas contra a concessionária de transporte. De acordo com o ponto de vista dela, a empresa vem sofrendo muito pela queda do número de pessoas transportadas durante a pandemia e com a ascensão de novos modelos de transporte, como o Uber e o Mototaxi
“E além disso, a obrigatoriedade de manutenção de uma alta oferta de veículos para garantir distanciamento social gerou grande perda das receitas, materializando um déficit milionário por parte da empresa. A conta simplesmente não fecha.”
Representando a empresa Saritur, de forma remota, a advogada Janine Silva destacou os problemas econômicos enfrentados pela empresa em razão da queda da demanda por transporte público
Ela defendeu uma renegociação com o município para que haja a cobertura desse rombo com dinheiro público. “Temos conhecimento que municípios como Belo Horizonte e Uberlândia tiveram implementação do subsídio tarifário, e que outros Estados também investem no transporte público. Pedimos que se concretize o funcionamento do Fundo Municipal de Transporte Público de Ipatinga, porque o modelo de financiamento do serviço apenas pelos usuários não funciona mais.”
Sobre o cumprimento dos direitos trabalhistas, ela argumentou que a atual situação das finanças não permite mais gastos.
“Temos um prejuízo de mais de R$ 8 milhões, e a empresa tem buscado alternativas para evitar o colapso do sistema.”
Usuário assíduo do transporte público, o vereador Fernando Ratzke relatou as difiiculdades enfrentadas diariamente por quem utiliza o serviço
O diretor do Departamento de Trânsito de Ipatinga, Julimar Rodrigues, reconheceu os problemas e disse que o governo vem mapeando as falhas na prestação do serviço.
“Assumimos a administração recentemente, e reconhecemos que esses problemas já vêm de gestões muito anteriores. Estamos empenhados em construir algo que possa de fato corrigir essas falhas.”
Ao fim da audiência, o vereador Vianei formalizou a intenção da Câmara de criar um grupo de trabalho permanente para acompanhar e fiscalizar o serviço de transporte público.
O parlamentar anunciou ainda o encaminhamento da ata da audiência ao Ministério Público, para que, conjuntamente com a Câmara, possa fiscalizar o serviço de transporte. Vianei quer também, juntamente com os demais parlamentares, estudar as cláusulas do contrato assinado pela administração pública. O vereador deu ainda um prazo de 15 dias para a empresa detalhar a quantidade exata de linhas ofertadas à população.
“Vamos trabalhar juntos para fazermos valer o direito dos consumidores de Ipatinga. Infelizmente a população paga caro por um serviço tão precário.”
Imagem em destaque: Vereador Vianei, autor da audiência, e ao fundo o diretor do Departamento de Trânsito de Ipatinga, Julimar Rodrigues
Assista à audiência: