CPI do Kit Escolar faz oitiva em São Paulo
Publicada em 09/12/2010 16:29
Apesar ter recebido kits devolvidos, empresa ainda doou R$ 85 mil em cadernos à
Prefeitura
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A empresa Acolari, contratada pela Prefeitura de Ipatinga para aquisição de kits escolares, encomendou, pagou e entregou uma pesquisa de intenção de votos ao atual prefeito, Robson Gomes, quando esteve à frente da prefeitura como prefeito designado por determinação judicial. A informação foi dada por Maria Cristina Blanco, diretora Comercial da empresa, na tarde desta quarta-feira (08/12).
Em oitiva na Câmara Municipal de Tietê/SP, Maria Cristina Blanco deu essa informação aos vereadores membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos kits escolares, Sebastião Guedes (PT), Adelson Fernandes (PSB), e a alguns técnicos da Câmara que estiveram em Tietê, cidade sede da Acolari.
Segundo Blanco, os donos da empresa encomendaram a pesquisa, tomando como base a necessidade da informação da confirmação ou não do prefeito (que era candidato na extemporânea, vindo a ganhar as eleições em maio), “uma vez que a
empresa mantinha relações comerciais com a Prefeitura, envolvendo montantes altos, e, comercialmente falando, a empresa tinha interesse em saber se ele seria o próximo prefeito ou não. Saber se poderia continuar confiando ou não no contrato”, relatou.
No material há um recado em anexo, assinado pela própria Maria Cristina, com os seguintes dizeres: “Prefeitura de Ipatinga, senhor Robson Gomes, nossa empresa pediu para realizar uma pesquisa na semana de 7 a 14 de maio. A pesquisa foi a pedido
dos proprietários de nossa empresa, Geraldo e Miro. A pesquisa foi muito favorável ao resultado de sua candidatura. Parabéns, sucesso”.
Vereadores Adelson Fernandes e Sebastião Guedes (ao fundo) durante oitiva com representantes da Acolari
Ela explicou que a pesquisa não foi registrada na justiça eleitoral “porque ela não tinha nenhum fim eleitoreiro”.
Ana Maria Santos, responsável pelo recebimento do material escolar com Cristina Blanco, chegaram a ir ao Bairro Bom Jardim, mas não encontraram o então candidato para entregar a “boa notícia”. Devido ao desencontro, Ana Santos veio a se
responsabilizar pela entrega da pesquisa e afirmou em depoimentos que “entregou-a na noite do mesmo dia, para o assessor do Robson Chico Panorama”.
Mais generosidade
Além de doar a pesquisa, a empresa doou os kits para o lançamento da campanha que ocorreu no Usicultura, aceitou a devolução de 18 mil kits pedagógicos, no valor de quase R$ 2 milhões, após a criação da CPI, e ainda doou R$ 85 mil em cadernos.
Maria Cristina disse que, por um erro da Prefeitura, foram feitos 43 mil kits pedagógicos (cadernos, lápis, giz de cera, etc), embora o município só tenha registrado pouco mais de 21 mil alunos.
A diretora Maria Cristina Blanco disse que o contrato, que pegou carona na licitação da cidade mineira de Santa Luzia, previa apenas a confecção de 16 mil e 500 uniformes e o que foi confeccionado pela Acolari, embora a contratação do serviço tenha sido feito em 29 de dezembro do ano passado e os últimos materiais entregues em setembro. Portanto, 9 meses depois de pagos.
Em sua declaração pública, o secretário de educação, Maurício Mairynk, informou que vem apertando a Acolari para que ela termine de cumprir a total entrega dos materiais comprados, mas a diretora comercial contesta: “Nós fizemos todos os kits escolares e entregamos. Inclusive a Prefeitura de Ipatinga está nos devendo R$ 1.123 milhões, referente a um aditivo ao contrato feito em agosto”.
Segundo dados da CPI, este aditivo foi assinado em 31 de agosto, correspondente à aquisição de 4.006 kits de uniformes.
Maria Cristina Blanco, diretora Comercial da empresa, conversa com os vereadores
Questionada sobre as principais dificuldades para a entrega dos kits no município de Ipatinga, Maria Cristina disse que as dificuldades se deram em virtude do não planejamento da Secretaria Municipal de Educação, “que demorou a entregar os
dados relativos aos tamanhos para a confecção dos itens dos kits”, disse a diretora comercial.
Má qualidade do material
Diante das reclamações de crianças e pais de alunos, principalmente dos tênis e mochilas, a CPI encomendou análise técnica em órgão credenciado pelo Inmetro (Centro Tecnológico do Calçado, no Rio Grande do Sul) e a resposta do laudo atestou a má qualidade dos tênis apresentados para a análise.
Para o presidente da CPI, vereador Sebastião Guedes, “Cristina poderia ter esclarecido mais, haja vista sua função na empresa, até porque os demais depoentes atribuíram a ela, a total responsabilidade do contrato com a Prefeitura de Ipatinga.”
Imbróglio
As informações desencontradas não param por ai. Ninguém soube informar aos membros da CPI como o contrato foi assinado. Sandro Zanardo, que assinou os primeiros contratos, disse que nunca foi a Ipatinga e que não sabe se o
contrato chegou à empresa via Correios, ou através de algum servidor, que poderia ter vindo a Tietê deixar o documento.
Outro item que não esclarecido foi qual o papel das empresas de Belo Horizonte, Capital Comércio e LL Comércio e Indústria Ltda, que, segundo depoimento da Ana Santos, foram as responsáveis pela entrega de parte dos kits.
A CPI já apurou que estas empresas é que forneceram as agendas, mochilas e uniformes sem a emissão da devida nota fiscal. Maria Cristina informou que essas empresas são “parceiras da Acolari”.
Fim do Ano Letivo
O vice-presidente da CPI, Adelson Fernandes, lamentou essa confusão. Após ouvir todas as diretoras de escola (71, no total), a CPI já tem uma conclusão: Já que a Acolari afirma que entregou todos os materiais, se as crianças não receberam, se a Prefeitura pagou aproximadamente R$ 9 milhões, onde estão estes kits?”, indaga o vereador.
Guedes ainda relembra que o secretário de Educação culpa a empresa, que quer receber o valor do aditivo, por declarar que já entregou tudo. Por conta dessas desinformações, coube à CPI solicitar cópia de inúmeros documentos da empresa
Acolari a fim de descobrir quem é o verdadeiro responsável por esse problema.
Antes de deixar Tietê/SP, os técnicos da CPI protocolaram um ofício na Acolari pedindo cópia de vários documentos que podem ajudar a esclarecer perguntas que ficaram sem respostas.
José Maria Carneiro, diretor executivo da Acolari, e Sandro Zanardo, diretor comercial, também foram ouvidos, mas seus depoimentos foram pouco esclarecedores. Como muitas outras testemunhas já ouvidas, eles também não sabem, não conhecem, não se lembram, nada viram, nem ouviram.