Falta de médicos e medicamentos e demora nos exames são itens mais apontados em audiência
Publicada em 27/03/2012 14:07
Audiência Pública faz parte da ação concreta da Campanha da Fraternidade 2012
Aproximadamente 200 pessoas participaram da audiência pública sobre a Campanha da Fraternidade nesta segunda-feira (26/03) e levantaram os inúmeros problemas envolvendo a saúde no município.
Com o tema Fraternidade e Saúde Pública e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”, a Campanha da Fraternidade está em sua 49ª edição e é um gesto concreto das igrejas católicas do Brasil, lançado pela Confederação dos Bispos dos Brasil (CNBB) com intuito de trabalhar temas que sejam sociais e envolvam todos os cristãos e não apenas católicos.
A audiência requerida pelo vereador Agnaldo Bicalho (PT) faz parte de um gesto concreto da Campanha, que engloba encontros para explicações do tema, trabalhos sobre a saúde pública em pastorais, explicações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) para a população desde o início da quaresma. Esse assunto será tratado pela igreja até a quaresma de 2013, quando a CNBB lançará um novo tema.
“Há muito que a igreja já trabalha temas e gestos concretos durante a quaresma, que é um período santo, de recolhimento, de trabalhar em prol do próximo e a saúde é um tema que atinge a todas as camadas da sociedade, aos cristãos ou não, porque ela é intrinsecamente ligada à dignidade humana e, por isso, ao homem, seja ele religioso ou não”, disse o padre redentorista da Catedral São Sebastião de Coronel Fabriciano, José Claúdio Teixeira.
Para o autor do requerimento, “a audiência é um espaço de debate público, numa casa política, em que as pessoas poderão deixar suas sugestões, reclamações e dúvidas quanto às leis municipais que dão garantias aos munícipes, suas queixas e experiências. Após isso, um relatório será feito e encaminhado à Comissão de Saúde da Câmara, à Secretaria de Saúde do Município, ao Conselho Municipal de Saúde, Promotoria de Defesa da Saúde, e Superintendência Regional de Saúde”, explicou Agnaldo.
Ele ainda reiterou que “problemas como falta de médicos, não cumprimento de horários desses profissionais, falta de medicamentos são informações que devem constar para os órgãos que podem resolver estes problemas e apurar possíveis denúncias”.
Após a fala dos vereadores petistas César Custódio e Sebastião Guedes, e do vereador Roberto Carlos (PV), explanaram sobre o tema o Pe. Cláudio, a representante da Superintendência Regional de Saúde, Débora Cabral, o secretário de saúde municipal, Arlen Marcos Ferreira, e o presidente do Conselho Municipal de Saúde, José Lameira Neto.
23 pessoas usaram a Tribuna para fazer perguntas e reclamar de situações que vivenciam em seus postos de saúde. Maria Aparecida Barroso, moradora do Parque das Águas, disse que o Governo Federal faz campanhas educativas de prevenção da saúde, mas “agendei um exame de mamografia há 4 meses, e até hoje não fui chamada, não sei se serei atendida, e o posto tem um único médico para atender todos os moradores, o que é impossível”, lamentou.
Já a senhora Minervina, moradora do Bairro Vila Militar, denunciou que, por falta de médico, quem atende são enfermeiros que “não têm estudo como um médico para prescrever medicamentos, que também estão em falta no posto”.
A ausência da Farmácia que atendia muitos munícipes com medicina homeopática também foi lembrada. Silvestre Cesário Bonfim, do Vila Militar disse que “não adianta os profissionais da farmacinha terem boa vontade, se não têm mais plantas, nem equipe que as desidrate, canteiros abandonados, enfim, um caos”, reclamou.
Mas nem todos usaram a Tribuna apenas para reclamar. Muitos profissionais, a exemplo de médicos, enfermeiros e trabalhadores da rede municipal de saúde, foram elogiados, “mas sem estrutura não tem como atender à população, sem medicação nos postos, problemas em computadores. Se fala em humanizar a saúde, mas nem tratados como humanos muitos profissionais são”, disse Cláudia Garito dos Reis.
Cláudia é presidente da Associação dos Portadores de Epilepsia (AAPE) e elogiou a Prefeitura, que está cedendo medicação com base em receita de médico neurologista não conveniado ao SUS, mas que trabalha em regime de voluntariado para portadores desta doença.
Mas o tom de denúncia e reclamação prevaleceu nas falas dos inúmeros conselheiros de saúde e dos usuários do SUS em geral. Falta de cumprimento de horário dos médicos, falta de médicos, exames que demoram até dois anos para serem realizados, falta de atendimento no Pronto Socorro Municipal, inexistência do programa de acompanhamento ao idoso em casa, dentre outros problemas.
Mais - Conforme a igreja, a CNBB traz temas que envolvem o homem e seu aspecto social, seja ele religioso ou não. A intenção é que as discussões atinjam a sociedade e não fiquem apenas na igreja.
A campanha é fundamentada em três princípios. O primeiro é o humano, “Todos sofremos, sentimos dor, ficamos doentes. A doença faz parte do humano, é inerente ao ser humano, mas é necessário compreender que doença não é apenas ausência de saúde, mas a soma de todos os fatores que influenciam um humano a viver com dignidade, como ter moradia, lazer, trabalho”, disse o Padre José Cláudio.
O segundo aspecto é o antropológico, ou seja, o aspecto que nos faz repensar que a vida vale à pena, com suas dores ou não. “Os milagres que Jesus fazia era pra demonstrar que a vida valia a pena, não apenas para o âmbito da conversão, porque uma fé sadia é mais válida que uma fé projetada em melhoria, naqueles que tem fé porque creem que precisam de auxílio de Jesus”, discorreu Pe. Cláudio.
Segundo ele, a cura mostra ao doente o sentido da vida, isso é bíblico e uma passagem do livro sagrado recordada foi a do bom samaritano, porque somos todos responsáveis uns pelos outros.
Por fim, o terceiro aspecto é o histórico: “Atualmente, não temos como falar de Deus sem associá-lo ao social. Quando o social não caminha, o humano não fica bem, e é mais fácil confundir aqueles que sofrem. Queremos pessoas sãs, de corpo, de mente, com fé fundamentada em direitos”, encerrou Pe. Claúdio.